O mercado artesanal brasileiro está debatendo o conceito de “cerveja decolonial”, um movimento que busca criar uma identidade nacional autêntica para a bebida. A proposta, abraçada por cervejarias como a Cozalinda de Florianópolis, é romper com a dependência de estilos e insumos europeus, valorizando a cultura e os ingredientes locais para desenvolver um verdadeiro terroir brasileiro.
Na prática, uma cerveja decolonial vai além de simplesmente adicionar uma fruta brasileira na receita. Segundo Diego Rzatki, cofundador da Cozalinda, o conceito envolve uma pesquisa profunda sobre bebidas ancestrais, como o Cauim, e o uso de microrganismos selvagens locais. O objetivo é criar uma “arquitetura sensorial” única, que reflita as diversas culturas que formam o Brasil, em vez de apenas replicar escolas cervejeiras estrangeiras.
A Cozalinda, mesmo antes de adotar o termo, já seguia essa filosofia desde 2014, buscando traduzir a identidade “manezinha” de Florianópolis em suas cervejas. A virada de chave aconteceu ao perceberem que, apesar de usarem leveduras locais, a estrutura de fermentação ainda se espelhava nos modelos europeus. Isso impulsionou a cervejaria a aprofundar a busca por processos e sabores genuinamente brasileiros.
O movimento também questiona dogmas do mercado, como o preconceito contra o uso de milho — um cereal nativo das Américas — e o foco excessivo em lúpulo. Rzatki defende que a inovação com ingredientes locais, como variedades de milho crioulo ou leveduras endêmicas, pode não só gerar cervejas únicas, mas também trazer vantagens econômicas e abrir portas para a exportação de produtos que o mercado internacional ainda não conhece.
Em resumo, a discussão sobre a cerveja decolonial representa um amadurecimento do mercado nacional. É um convite para que os produtores olhem para dentro, se libertem de padrões importados e comecem a trilhar um caminho de inovação para construir, ao longo do tempo, uma identidade cervejeira que seja, de fato, brasileira.
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